(…)
Se chegue, tristeza
Se sente comigo
Aqui, nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar.
(“Bom dia Tristeza” de Vinicius de Moraes e Adoniran Barbosa)
Há muito tempo anseio escrever algo sobre o Amor. Mas falar DE Amor, falar DO Amor que sentimos por alguém não é tarefa fácil. Talvez porque tenhamos medo de amar, talvez porque falar de Amor de certa forma nos revela, nos expõe, escancara sensibilidades e sentimentos escondidos que cultivamos por alguém, e isso para a tal sociedade moderna é sinônimo de fraqueza.
Me salta aos olhos observar muitos jovens, velhos, homens e mulheres fazerem piadas quando me vêem escutando uma canção do final da década de 60 que fala sobre o Amor, quando leio ou escrevo uma poesia, um texto, uma frase sobre o Amor ou mesmo quando digo que sofrer de amor me faz bem. Sou chamado de louco, masoquista, anormal, estranho.
É engraçado como a sociedade que condena o Ódio e prega o Amor na prática reage opostamente a essa teoria. Quando fazemos declarações de Amor somos ridicularizados e muitas vezes até desprezados, mas quando dizemos que odiamos alguém, rapidamente somos facilmente compreendidos.
Essa é uma reflexão que proponho a todos vocês. Por que não somos levados a sério quando dizemos que sentimos a falta do cheiro, do perfume, do calor da voz que vem do sussurro da pessoa amada em nossos ouvidos envoltos por aquele lençol desarrumado objeto do cenário do amor depois do amor. O que está de errado em verbalizar que nos sentimos sufocados pela saudade causada pela ausência? Por que tentar se enganar ou mesmo se convencer dizendo que todo aquele amor passou quando na realidade aqui bem dentro de nós ele ficou? Vergonha de revelar para o mundo e admitir que aquele amor vivido rouba seus sentidos e te deixa a pele toda arrepiada num misto de desejo, amor e paixão no entrelaçar de suas coxas desnudas, no roçar dos lábios na nuca e no calor do prazer consolidado, materializado e personificado naquele único ser?
Por que ao final de todo relacionamento sempre nos aconselham a “virar a página”? Falam para tentarmos esquecer a pessoa amada? Um livro só é um livro se tiverem coisas escritas nele. Não se faz um livro com páginas em branco. Não se entende uma história se não nos lembrarmos do capítulo anterior. A vida é feita de memórias, de fatos e emoções vividas, e a lembrança de um grande amor faz parte dela. A lembrança de um grande amor é dolorida, mas é boa, é gostosa, nos faz levitar um pouco sob a vida real.
A mim, me faz bem permitir viajar em minhas lembranças, falar do amor e dizer simplesmente que sinto saudades daquelas coisas simples que vivemos, das nossas poucas palavras, do seu bom dia na cama, os flashes dos momentos de nós dois, meu copo de whisky, o barulho do gelo, a poltrona que estou sentado com o olhar perdido para fora da janela num misto de um vazio no peito com as luzes da cidade, começo a pensar que eu que sempre fui tão inconstante, agora quero você em minha vida, uma vida só de amor, reparo na meia luz do abajur ligado ao meu lado que me remete sempre a você, que você é o que eu sempre sonhei para mim, mas que nem tudo é possível, permaneço, então, com os olhos cheios de esperança, me lembro do teto, do teto do nosso quarto e o som do seu suspirar depois do amor, aquele minuto de silêncio e o cheiro do seu corpo no meu, o tocar da sua pele no nosso banho a dois, o beijo molhado debaixo do chuveiro, o pingo de água escorrendo do seu cabelo e percorrendo todo seu corpo como se fosse desenhado, pintado e que agora só existe em minha memória. Sua sedução me escraviza a você. Ao fim de tudo você permanece comigo, mas preso ao que criei e não a mim. Me faz bem saber que me aceitar sem você certas vezes me custa…
A verdade é que as pessoas têm medo de Amar e de falar do Amor, porque têm medo sofrer, porque nos foi ensinado desde muito cedo a sermos fortes, a suportarmos e superarmos as dificuldades não nos permitindo extravasar maiores sentimentos. Que a emoção leva ao desequilíbrio. Nos foi ensinado a agirmos com a razão. Que a racionalidade não erra. Porque as ciências exatas sempre chegam a um resultado concreto e certo. No entanto, quando se transita no campo dos assuntos relacionados ao coração, o certo não é sinônimo de felicidade, e muito menos reflexo da comprovação de existência de vida. Como sabiamente dizia o poeta Vinicius de Moraes “quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu, porque a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu… não há mal pior que a descrença, mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão”.
Julgo que nos dias atuais alguns dos inúmeros motivos que estão levando a vulgarização do Amor é proveniente da descrença com o sentimento mais importante e objeto pelo qual fomos criados para esse mundo, ou seja, o Amor. Há um medo exacerbado de Amar, um pânico pelo envolvimento, um vírus que impregna a todos gerando um escudo, uma reclusão, uma bolha blindada avessa ao sofrimento e a tristeza. É melhor alimentar um verdadeiro Amor mesmo que não correspondido por toda uma vida do que nutrir o exílio da Indiferença. As pessoas acreditam que o oposto do Amor é o Ódio, que depois do Amor vem o Ódio e que sofremos porque odiamos a nós mesmos por termos nos iludido oferecendo e disponibilizando nosso coração de forma integral e irrestrita ao ser que julgávamos amar e que de uma hora para outra fez as malas e partiu sem a menor “consideração”. Passamos a Odiar iludidos pela tal miragem da falta de consideração, quando na verdade o real sofrimento não é decorrência do correspondente antônimo do Amor, mas pelo deserto da Indiferença do outro.
Todos somos preenchidos por amores e ódios. Evidente que o Amor é melhor que o Ódio e obviamente prefiro Amar, mas o sentimento do ódio também exerce o seu papel em nossas vidas. Ambos de algum modo são necessários para justificarem nossa existência, itens obrigatórios a serem cumpridos no transcorrer de nossa vida material. Para Amar e Odiar alguém é preciso admitir que esse alguém existe, seja em carne e osso ou apenas em nosso imaginário. Sofremos amando ou odiando alguém porque esse alguém existe para nós, mas por outro lado não existimos mais para esse alguém. E o estado de espírito Sofrer por Amor é resultado dessa Indiferença, de sabermos inconscientemente que não representamos mais nada para pessoa amada, que hoje nada mais somos na vida dela e que elas não mais testemunham nossa existência.
A Indiferença dói porque ela é assim, transparente, sem cor, sem forma e indolor. A Indiferença representa o nada. Até para alguém ser insignificante ela precisa existir, é fato que o insignificante é aquilo que pouca importância tem, entretanto, ela existe, está lá, igual ao número zero, que é insignificante, mas, existe. Agora, quando se trata da Indiferença, se está referindo ao NADA, a impersonalização representada pela ausência plena, a absoluta negatividade de sentido, a real e verdadeira dor do Amar.
Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!
Confiram a música “Bom dia Tristeza” objeto de minha inspiração para essa crônica na maravilhosa interpretação de Maria Bethania http://www.youtube.com/watch?v=NnFXOYXYroM
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