Outro dia estava conversando no celular de Rio Branco com o Marcelo (gerente de web do Grupo MN11) em São Paulo e perguntei se ele tinha alguma sugestão para minha crônica dessa semana. Ele simplesmente me respondeu: – Acho que você escreve demais de aviões!! Achei engraçado. Primeiro porque esse comentário não é uma sugestão e sim uma crítica e segundo porque na verdade não é que falo muito de aviões, é que muitas coisas engraçadas me acontecem dentro de aviões, na sala de embarque e desembarque e nos cafés e restaurantes dos aeroportos. E como parte de minha rotina consiste em viajar, é praticamente impossível não citar algo que vejo ou que me salta aos olhos nesses lugares onde circulam tantas pessoas de todos os tipos, de todos os lugares do mundo, pessoas que passam por ali e que nem imaginamos de onde vieram ou para onde irão, tantas aeronaves de tantas companhias aéreas que levam diariamente inúmeras pessoas para os mais diversos locais do mundo. E, naquele instante, em que estou lá vendo essa imensidão de pessoas às vezes me indago: Para onde será que toda essa gente vai? O que será que todas essas pessoas fazem nas suas vidas que precisam viajar tanto assim? Mulheres, homens, crianças, famílias inteiras, executivos, seres estranhos, pessoas de todos os tipos e de todas as tribos.
Essa semana não foi diferente. Estava eu no Aeroporto em Rio Branco almoçando com meu pai no restaurante do aeroporto, olhando pelo vidro aguardando o avião que me levaria para São Paulo chegar. Observei a aeronave estacionar, o pessoal que vinha de Brasília desembarcar, a nova tripulação embarcar e me dirigi à sala de embarque. Já estavam anunciando o embarque dos passageiros do vôo JJ3563 da TAM. Me despedi com um abraço e um beijo em meu pai, peguei minha mala de mão, conferi se estava com os meus celulares, minha carteira e meu ipod e fui para a fila do detector de metais. No momento que entrei na sala de embarque tive a melhor visão que poderia ter. Ela estava sentada. Aguardava pacientemente as pessoas que estavam se amontoando na fila para embarcar. Olhei para ela e surpreso com a coincidência absurda disse com cara de bobo: Olá… tudo bem? Ela me respondeu afirmativamente com um sorriso: Oi tudo bem… e você? Como fui pego de surpresa, respondi que estava tudo bem também e fui para fila do embarque. Depois fiquei pensando… que idiota… o famoso diálogo débil mental do “oi tudo bem? Tudo bem e você?”.
Afinal de contas, havíamos nos encontrado em uma festa na semana anterior e, eu, já indo embora após vários copos de whisky resolvi tomar coragem e ligar para ela já com uma certa dificuldade na articulação verbal. Acabei levando um fora elegante. Mas, fora é fora em qualquer lugar do mundo, seja ele com classe ou mal educado. Pensei, ah…. tudo bem… acho que me enganei, tive a impressão errada. Segui cumprindo minha agenda de compromissos em Rio Branco e esqueci do assunto. Aí, quando eu menos espero, dou de cara com ela na sala de embarque do aeroporto. Nem fui falar com ela. Fiz papel de tonto com o meu super e inteligente diálogo do “oi tudo bem?”e me dirigi ao avião. Fiquei torcendo para que a coincidência fosse maior e o assento dela fosse ao lado do meu. Mas, não tive essa sorte. Sendo assim, só me restou dormir mesmo.
Quando chegamos em Brasília torci novamente para que ela fosse para São Paulo com destino ao aeroporto de Guarulhos. Mas novamente não fui feliz. A hora que ela estava desembarcando passou por mim sorriu novamente e disse: Tchau!! Não resisti e perguntei qual era o destino dela. Ela me respondeu: Congonhas. Perguntei rapidamente enquanto ela ia se distanciando pelo corredor do avião até quando ela ficaria em São Paulo e me respondeu gesticulando com as mãos de que ficaria até a próxima semana. Logo pensei: Puxa… eu nunca vou para Guarulhos… sempre desço em Congonhas porque é mais perto do meu apartamento… mas dessa vez acabei comprando para Guarulhos porque a tarifa estava mais barata. Que falta de sorte!!!
Enquanto esperava dentro do avião que limpassem tudo e os outros passageiros embarcassem, não resisti e resolvi ligar. Na primeira vez o celular não pegou. Na segunda, chamou duas vezes e deu falha de ligação. Será que ela teria recusado minha chamada ou a ligação que não estava boa mesmo? Tive que morrer com a dúvida. Mas, ainda me restava a mensagem de texto. Rapidamente escrevi: “E aí “moça” já que estaremos em SP não podemos jantar juntos um dia? Posso te ligar amanhã para conversarmos um pouco e combinarmos? Bjsss Mathias.”
Ela não me respondeu. Aff!! Como sou animal!!! Já me deu um fora uma vez e agora de novo!!! Vê se aprende!!! (minha consciência me recriminando). Pois é. Mas isso tudo é muito curioso. Porque sempre queremos quem não nos quer. Talvez por esse motivo mesmo. Da rejeição. Sou meio louco, masoquista. Gosto de ser rejeitado. Me dá mais ânimo, mais fôlego, gosto desses desafios. No entanto, o mais engraçado é como dizem por aí… de duas uma: 1)Ou realmente tive a impressão errada e viajei naquele sorriso maravilhoso e vi coisas que não existiam; 2)Ou ela não está se permitindo nem me conhecer para fazer algum julgamento mais fundamentado e me dar um verdadeiro Fora porque às vezes tenho a impressão de que ela tem medo de se deixar aproximar por alguém.
Por isso o título da minha crônica dessa semana é Refocilar o Espírito de Se Apaixonar. Vocês devem estar se perguntando. Que raios significa a palavra “refocilar”? Como dizem que todo escritor é meio maluco, e eu não sou a exceção, minha inspiração para a crônica dessa semana, além da visão maravilhosa que tive dessa moça obviamente, me veio de um texto e duas músicas. Primeiramente, falando do texto, ele é do professor Mario Sergio Cortella em sua obra “Não espere pelo epitáfio… provocações filosóficas” 7º edição, página 73, editora Vozes. Segundo, foi de uma música antiga que escutava na época do colégio e que tocava na MTV, “It must have been love” do grupo Sueco Roxette e na seqüência a música “Angel” da Canadense Sarah McLachlan.
Enfim, refocilar significa reanimar, recuperar as energias perdidas. Em latim o vocábulo focus (fogo) ganhou o diminutivo focilus (foguinho) não na acepção ébria, tão inconveniente por estes festejos, mas indicando o esquentar, aquecer, e, por extensão, reanimar. A palavra refocilar seria um excesso de erudição na linguagem? Sim, talvez. Mas até Camões usa esse verbo no Canto 9 de Os Lusíadas, dizendo: “Algum repouso, enfim, com que pudesse / refocilar a lassa humanidade”. Sei que a palavra refocilar não soa bem, todavia, interessante é, resgatarmos alguns verbos esquecidos pela vacuidade da banalização de nosso idioma nos tempos atuais.
Caros leitores, o que proponho essa semana, é que todos nós estejamos mais abertos para novas pessoas, novos desafios, novas propostas de trabalho, precisamos cultivar o estado contínuo de nos reanimarmos diariamente para uma nova paixão, para uma reaproximação, uma reavaliação. No meu caso específico, não estou sentado em minha prepotência achando que de fato ela teria que ter se interessado por mim. Muito pelo contrário. Essas coisas ou acontecem, ou acontecem. Seja você o ser mais bonito, mais interessante, inteligente, rico, ou o mais careca, baixinho, feio e desempregado. O apaixonar não se pode medir, apenas sentir. Entretanto, o suposto “fora” que levei dessa moça não refletiu o que vi em seus olhos. Gostaria muito que ela respondesse minha mensagem de texto e aceitasse meu convite para jantar, porque no final da história o máximo que poderia acontecer seria o nascimento de uma nova amizade.
Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!
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