“A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”. Já dizia Vinicius de Moraes. Só o amor não basta. Uns dizem que o amor constrói. Outros que ele torna a convivência impossível. Por que alguns relacionamentos duram para sempre, enquanto outros que pareciam tão certos acabam num piscar de olhos? Por que alguns namoros de anos se transformam em casamentos fracassados que não chegam ao 1º aniversário? Por que muitos casais que se amam não conseguem viver juntos?
Nessa semana que passou, refleti bastante sobre esse assunto. Não pude deixar de pensar, pois acompanhei, meio que sem querer, a história de três casais de amigos, que tiveram desdobramentos diferentes.
Na segunda feira, o Leo me ligou. Queria sugestões para comemorar o 1º aniversário de casamento (fui pesquisar e para quem não sabia, como eu, no 1º ano se comemoram bodas de papel!). Estava entre um fim de semana prolongado em um chalé, na Serra da Canastra e uma viagem para o Peru. Na terça foi o Gu, irmão dele e praticamente meu irmão também afinal, como já disse nas colunas anteriores, crescemos juntos no edifício Mirante, na Rua Juatuba, em São Paulo. O Gu marcou a data de seu casamento com a Nidia, depois de aproximadamente três anos de namoro. Em contrapartida, também tive notícias tristes na quarta. A Juliana abandonou o apartamento em que morava com o Ramon. Isso mesmo meus caros leitores, eles se chamam Juliana e Ramon Antonio, e não são personagens fictícios, oriundos de uma novela mexicana, mas pessoas reais, da minha convivência, embora os seus encontros e desencontros sejam dignos de uma telenovela. Vou falar um pouco desses casais para vocês entenderem um pouco o que quero dizer. O Leo conheceu a Luiza por uma coincidência da vida. Tinham amigos em comum. Foi despretensiosamente ao aniversário da amiga de um amigo, que por acaso é este que vos fala, e lá estava ela. Foi amor à primeira vista. O Leo, que, aos 28 anos, nunca tinha tido um relacionamento sério, vivia na balada e que todos esperavam que fosse ser eternamente solteiro. Aquele Leonardo que nunca tinha posto uma aliança no dedo, nem de compromisso, três anos depois, em junho de 2010, estava atingindo o nível mais alto de um relacionamento. Estava no altar, em frente a um padre, dizendo Sim, prometendo amar e respeitar a Luiza até o fim de seus dias, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. O Leo tem seus carros antigos, gosta de mexer neles, às vezes por horas, outras o dia inteiro. A Luiza gosta de viajar, mas preza muito a relação com a família, principalmente com os pais, os avós. Faz sempre questão de estar presente em todas as festas e aniversários. O Leo não tem família em São Paulo, a não ser pelo pai viúvo.
Já o Ramon e a Ju, se conheceram há muitos anos. Ele com 21, ela com 22. Foram 6 anos de namoro, entre idas e vindas, mas sempre o Ramon e a Ju. Como é natural nesses casos, resolveram também juntar os trapinhos. Não durou 6 meses. O Ramon luta jiu jitsu. Gosta de assistir ao UFC (Ultimate Fighting Championship). Gosta de sair com os amigos pra assistir às lutas. A Ju gosta de viajar. É intelectual, gosta de ler. Sair com as amigas, conversar. A Ju gosta do apartamento arrumado, o Ramon não liga pra bagunça. Como eu disse, semana passada a Ju abandonou o barco, após vários desentendimentos. Ela disse que cansou. Ele diz não entender por quê. Diz que queria conversar, mas não teve oportunidade. Ela diz que cansou de dizer sempre a mesma coisa.
Já o Gu saiu de alguns namoros fracassados. Sempre foi mais caseiro. A Nidia, também sempre foi caseira. Veio de um casamento que não deu certo, mas gerou um fruto, o Bernardo. O Gu se dá bem com o Bernardo. Se dá bem com a família dela. Os dois são bem “pé no chão”. Os dois são tranquilos e gostam de fazer tudo juntos.
Por que esses três casos, tiveram desfechos tão diferentes? No segundo caso, será que faltou amor? Eu sinceramente duvido. Acho que faltou diálogo. Faltou paciência. Faltou compreensão. Faltaram acordos. Concessões. Maturidade. Namorar é uma coisa. Cada um na sua casa ou dos pais. Brigou? Cada um volta pra casa e depois conversa. O quarto está desarrumado? O banheiro está sujo? A pia cheia de louça? Quer assistir TV até tarde? Tudo bem, não vai incomodar ninguém! No casamento é diferente… Para estar e permanecer casado, precisa não só de amor. Precisa ser paciente, saber ouvir. Fazer concessões. Analisar o próprio comportamento e o do outro. Ver onde está exagerando e tentar mudar. Ver onde o outro está sendo muito exigente e conversar. Não custa nada lavar uma louça, se aquilo incomoda tanto o parceiro. Guardar uma roupa, jogar a roupa suja no cesto, manter a casa organizada. Do outro lado, é preciso conversar direito, expor o que te incomoda, estabelecer horários, regras que valham para os dois. Evitar competições, procurar fazer com que os dois ganhem sempre, acrescentem e agreguem valor ao relacionamento ao invés de dispersar e subtrair.
Parece que aquela máxima é verdadeira: “O homem casa esperando que a mulher não mude, mas ela muda. A mulher casa esperando que o homem mude, mas isso não acontece”. Ou ainda outro cliché: “Para viver bem com um homem é preciso amá-lo um pouco e entende-lo muito. Para conviver bem com a mulher amada, é preciso amá-la muito e entende-la um pouco”. Em geral, o que tenho observado sinceramente é que se por um lado o número de enlaces matrimoniais caminha numa crescente, como se pode observar em dados estatísticos, por outro, a quantidade de casamentos fracassados também é gigantesca. Por essa razão, a dúvida que paira no ar para mim é onde estão todas essas pessoas que estão casando se 90% dos meus amigos e amigas, inclusive eu, estamos solteiros e a tarefa de encontrar aquela tampa da panela com encaixe perfeito se tornou uma missão quase impossível? De um lado a banalização do casamento, separações, segundos e terceiros casamentos e de outro, o egocentrismo da auto-suficiência, isolamento, medo de se relacionar, de se encontrar e desencontrar que o mundo moderno capitalista tem levado o ser humano a um estado de prepotência nunca antes visto, onde a expressão “abrir mão” e realizar pequenas concessões está fora de cogitação.
Na verdade os relacionamentos estão sendo assassinados pela intolerância e intransigência dos seres humanos. Nos últimos tempos nos foi ensinada a palavra SOMAR. Somar sempre e a qualquer custo. Estão todos muito mais preocupados em somar patrimônio, títulos, carros, dinheiro, condecorações, reconhecimentos profissionais, do que DIVIDIR sentimentos, paixões e amores. A vida e por consequência em nossos relacionamentos está faltando um pouco mais de romantismo. Quem disse que ser romântico, compreensivo e tolerante é sinônimo de fraqueza? Quem disse que fazer valer a sua vontade e a sua “verdade” é reflexo da felicidade? A sociedade em geral consome todo o seu tempo preocupada em somar quando deveria parar por uns instantes, olhar, e contemplar os pequenos momentos da vida e a beleza dos pequenos detalhes do outro sentado ao seu lado. Talvez assim, fosse mais fácil contornar os desencontros e fazer de nossa vida a arte do encontro.
Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!