Ainda não sou pai, mas pretendo ser um dia. Como diz o ditado popular, fazer filho é fácil e rápido, mas é preciso saber que é para vida toda e estar preparado para o que vem depois que esse novo ser sai da barriga da mãe. É nesse momento que toda uma perspectiva e estilo de vida se modificam completamente. Dali para frente de um modo geral não fazemos as coisas para nós e sim para os nossos filhos. Uma preocupação eterna, mas no bom sentido. E é isso que me preocupa bastante ao ver essa nova geração que vem se “formando” desde meados da década de 90.
Sei que não tenho direito de criticar essa nova juventude que está se construindo e que logo mais estará no mercado de trabalho e quiçá liderando um país porque ainda não sou pai e não vivenciei as dificuldades de se criar um filho. Mas ao olhar para trás e comparar com os dias atuais, confesso que sou tomado por uma certa angústia, um certo medo e desânimo. Sou da teoria que a educação que se leva por toda uma vida é construída até os 15 anos de idade. E quando me refiro a educação, não estou me referindo à formação acadêmica, mas daquela educação proveniente da família e da escola. Valores, conceitos morais, éticos e comportamentais que ou se aprende e são arraigados em seu caráter desde pequeno ou se corre o risco de criarem seres humanos “mancos”.
Digo isso porque andei reparando muito nas conversas e interesses das crianças e adolescentes de hoje em dia. Para mim, na verdade, guardadas as devidas exceções, a juventude atual não está preocupada, comprometida ou engajada com nada. Não existe mais aquela história do que você quer ser quando crescer. Não existem sonhos, metas, projetos de vida, por mais “bobos” e infantis que sejam. A juventude hoje parece viver por viver. Seguem uma rotina sem o menor comprometimento e senso de responsabilidade. O objetivo de vida delas parece ser o de conseguir ficar inserida nas novidades tecnológicas e, por conseguinte, no grupinho de amigos delas (entenda-se por cultura do comprar, consumir e ter tudo o que de novo aparece no mercado). No entanto, isso não é culpa dessa nova geração, mas sim, dos pais e da escola. Antigamente, e não muito antigamente, os pais eram mais presentes, acompanhavam mais de perto a vida dos filhos. Há uns 20 ou 30 anos atrás, os professores eram considerados autoridades. Eram respeitados e valorizados pelo seu papel na sociedade. O que falta hoje na verdade é disciplina e pulso firme tanto dos pais como dos professores. Na minha época, e olha que sou nascido em 1982, ou seja, não faz tanto tempo assim, me recordo que eu e todos meus amiguinhos tínhamos respeito e até um certo medo dos professores. Eram os professores exercendo o seu papel na escola e os nossos pais em casa acompanhando com pulso firme e rédea curta nossa rotina de vida. Existia horário para acordar, comer, dormir, estudar, brincar, fazer lição de casa, assistir TV e etc. Todos nós quando pequenos até poderíamos ter ficado chateados em algumas situações, mas incomodados ou não, respeitávamos e obedecíamos nossos pais e professores.
Nos dias de hoje parece que os papéis se inverteram. A impressão que tenho é a de que os filhos mandam em casa e na escola. Parece que os pais estão mais preocupados em agradar e fazer todas as vontades dos filhos do que a de educá-los. Os pais comem na hora que os filhos estão com fome, comem o que eles querem comer, assistem o canal de televisão que os filhos escolhem, compram todos os brinquedos, jogos de videogame que os pequenos querem na hora que eles querem. Na minha época, presente se ganhava em datas especiais como aniversário, natal, dia das crianças e no máximo por ter passado de ano com notas boas no colégio.
Os pais hoje em dia parecem que têm medo dos filhos. Quando na verdade deveria ser o inverso. Não exagero ao ponto de dizer que os filhos precisam sentir medo dos pais, mas deveriam ao menos respeitá-los e obedecê-los. Contudo, a desculpa que parece imperar é a de que os pais de certa forma se sentem culpados pela ausência do dia a dia com os filhos, pelo fato de trabalharem o dia inteiro e não terem tempo de dar atenção aos pimpolhos e por essa razão procuram compensar essa ausência com presentes, agrados materiais e principalmente fazendo todas as vontades dos pequenos.
Mas para mim isso é uma enorme desculpa. Quando eu era criança meus pais também trabalhavam o dia todo e nem por isso deixavam de me dar atenção e me acompanhar nos estudos. Desde pequeno fui ensinado pela minha mãe a estudar todos os dias tudo que se aprendia em sala de aula independentemente de provas marcadas. Lição de casa fazia todas no mesmo dia em que eram passadas, nunca na véspera do dia da aula. Sempre estudei no período matutino, para acordar cedo e aproveitar o dia para atividades extra-curriculares no período da tarde como aulas de tênis, karatê, piano, inglês, espanhol, francês e etc. Nunca reclamei de ter que fazer todas essas atividades, para mim era tudo muito normal e natural. Isso sem levar em consideração de que a exigência em casa por notas boas era grande. Minha mãe tomava minha lição nas matérias de exatas e meu pai nas de humanas. Me lembro até hoje que minha mãe não me deixava sair da mesa de estudos enquanto não soubesse absolutamente toda matéria sem pestanejar. Ela pegava uma caixa de formulário contínuo e ficava inventando páginas e mais páginas de equações que ela mesma bolava para que eu treinasse matemática. Somente após de ter feito tudo e acertado tudo é que estava liberado para brincar. Talvez, isso tenha sido um exagero, mas tenho que reconhecer que todo esse esforço e investimento de tempo, dinheiro e amor dos meus pais tornaram minha vida acadêmica e profissional muito mais fácil. Sou o que sou graças a eles e afirmo com propriedade que sinto muita falta daqueles tempos, do Colégio Notre Dame e principalmente dos tempos do Colégio Bandeirantes onde aprendi a ser não apenas um “nerd” bitolado, mas um ser pensante, uma pessoa antenada com o mundo e com a sociedade ao meu redor. Naqueles tempos era praticamente uma obrigação ler jornais e revistas para ficar por dentro da política e da economia do Brasil e do mundo. Éramos preparados para dar continuidade ao projeto de um país. Tive um professor de História do Brasil no Colégio Bandeirantes que dizia: “Vocês estão sendo preparados para serem os melhores, para administrarem e gerirem uma nação”.
Tenho uma visão um pouco pessimista do futuro. Sinto que a cada década que se passa as coisas tendem a piorar e o grau de conscientização sócio-política da população está se esvaindo. Daqui a pouco não saberemos mais de onde viemos e para onde queremos ir. Penso que será um caos geral. Não entendo o sentido de se falar em sustentabilidade e preservação do meio ambiente se não teremos homens e mulheres preparados para cuidar de tudo isso. Se não se cresce com uma estrutura familiar sólida, se não existem pilares, organização e disciplina nem dentro de suas próprias casas, como esses novos seres que nascem todos os dias conseguirão viver em sociedade? Se não há valores morais, éticos, familiares, e regras a serem seguidas na base de nossas vidas, como será o futuro? Dizem que tudo nesse mundo é cíclico, desde a moda, as crises políticas, as guerras, as doenças, os períodos de estagnação, a evolução do ser humano e que nada se cria, tudo se copia. Até o presente momento, o que conseguimos observar é a evolução de tudo que foi inventado e criado até agora no que diz respeito à medicina, meios de comunicação, tecnologia, meios de transportes, segurança e etc. Todavia, trabalha-se diariamente na evolução de todas as coisas para facilitarem e melhorarem nossas vidas. Isso é ótimo. Entretanto, será que o mundo parou para olhar e cuidar da evolução e crescimento espiritual dos nossos filhos e nossos netos? Pois percebo que enquanto tudo ao nosso redor avança e evolui, o ser humano regride e apodrece. Não sou contra ao avanço da tecnologia, até porque trabalho e vivo dela. Mas será que não somos capazes de tirarmos proveito de todo esse avanço para arrumarmos um tempo para nos aproximarmos mais e evoluirmos como pessoas? Como cidadãos? Como pais? Como mães? Como filhos? Como amigos? Será que esse mundo high-tech, impessoal e sem perspectivas ideológicas que se fomenta, com pessoas cada vez mais individualistas, insensíveis, com a banalização da família e dos sentimentos não nos levará a extinção muito antes do que estamos pensando?
Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!
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