Milhões de pessoas colecionam os mais diversos objetos em todo o mundo. Afinal, o que as leva a isto?
Numa primeira análise, o colecionismo poderia ser considerado apenas como uma forma de entretenimento, um simples “hobby”.
Mas, se formos analisar bem, colecionar trata-se de uma atividade importante: o colecionismo, além da idéia básica de entretenimento cultural, é uma arte e uma ciência.
A história relata, em diversas etapas do desenvolvimento humano, uma série de pessoas, em diferentes locais, preocupadas em guardar, armazenar objetos, de modo a preservá-los. Se isto não tivesse ocorrido, não teríamos, hoje, o conhecimento que temos de nosso passado.
Apesar dos inegáveis atrativos que os modernos meios de entretenimento nos proporcionam e lembrando de um passado ainda recente, (no qual não tínhamos estas maravilhas eletrônicas que hoje existem…), não se pode deixar de constatar o irresistível charme e o fascínio que o colecionismo exerce sobre as pessoas. A grande maioria de nós já passou por uma experiência colecionista, por mais breve que tenha sido, e quase todos, mesmo não tendo prosseguido, têm uma palavra de atenção, de reconhecimento, de saudade e mesmo de admiração pelo que fez algum dia.
Para se ter uma idéia da importância de colecionar algo, diversos países introduziram uma das formas de colecionismo, a Filatelia, em seus curriculuns escolares. Isso por que a Filatelia, particularmente a Filatelia Temática, que nada mais é que a coleção de selos postais, pode ser um importante auxiliar pedagógico, por exemplo, em História, Geografia e Artes.
A filatelia foi considerada uma “ciência auxiliar da História”, pelo Congresso Internacional de Filatelia de Barcelona (Espanha – 1960), No Brasil, ainda se está longe deste reconhecimento, mas o Ministério da Cultura incluiu a Filatelia na Lei Federal de Incentivo à Cultura, a “Lei Rouanet”.
Quando aplicada na escola, a criança vê e revê, diversas vezes, a mesma imagem, ao fixar o selo no álbum, verificá-lo no catálogo, etc. e com isso, além da memorização da imagem representada, desperta para a importância do fato que veio a merecer a emissão de um selo e, imediatamente, pode fazer a correlação com os fatos ligados ao tema que este ilustra.
Portanto, o ato de colecionar pode desenvolver fundamentalmente no indivíduo dois princípios básicos: o formativo, ao exigir o desenvolvimento de aptidões e capacidades da pessoa e o informativo ao proporcionar a aquisição de conhecimentos especializados relacionados com o tema escolhido. Os benefícios didáticos, educacionais e culturais advindos desta prática são evidentes.
Não se sabe, enfim, de onde vem o costume de colecionar coisas, mas sabe-se que é uma mania muito antiga. Historicamente, o hábito de colecionar objetos, era costume de reis, rainhas, príncipes e pessoas do alto clero.
Segundo os psiquiatras, colecionar é uma atividade absolutamente normal. Todas as pessoas colecionam algo, mesmo que não percebam. Podem ser caixas de fósforo, chaveiros, sapatos, etc. Inadvertidamente ou não, sempre colecionam alguma coisa. Portanto, caros leitores, felizmente, colecionar é algo absolutamente normal. Podem ficar sossegados, pois anormais são aqueles que não se interessam por mais nada, além de sua atividade cotidiana e muitas vezes nem mesmo por ela.
O objeto da coleção pode ser variado, dependendo do gosto e do bolso de cada colecionador: Desde coleção de selos, moedas, latinhas de cerveja, embalagens de cigarro, passando por miniaturas, chaveiros e os mais variados itens, até obras de arte, automóveis, barcos, aviões e o que mais se possa imaginar.
Conheço uma senhora que coleciona miniaturas de elefantes. Isso mesmo, Elefantes! Dona Maria de Lourdes tem uma espécie de cristaleira, na sala de sua casa em São Paulo, ou “elefantário” como gosta de chamar, onde guarda todos eles. Quando algum amigo ou conhecido viaja, seja no Brasil ou no exterior, tia Lu, como os amigos a chamam, considera uma ofensa pessoal se não for lembrada e não receber na volta da viagem pelo menos uma miniatura diferente, vinda de algum lugar distante no globo terrestre. O detalhe fica por conta da posição em que os elefantes ficam dentro do móvel, sempre com a parte traseira voltada para a porta, como manda o feng shui.
O meu amigo Leo, velho conhecido de vocês leitores que me acompanham, coleciona carros em miniatura, a maioria antigos, americanos e com motor V8, já que, acredito eu, seu bolso e espaço na garagem do prédio não permitam que os colecione em tamanho real, o que tenho certeza, ele faria, se pudesse.
Segundo ele, essa “doença” começou há uns 10 anos, quando em uma visita ao Shopping em Sorocaba, estado de São Paulo, comprou 4 carrinhos da marca Hotwheels. Estes ficaram guardados na embalagem até 2007, quando os mostrou à sua esposa, a Luiza, na época namorada. Esta, não sei se para agradar, afinal nos tempos de namoro todos querem ganhar uns pontinhos a mais com o namorado ou namorada, incentivou-o a comprar mais alguns e lhe deu uma estante para 50 miniaturas. Acho que foi o maior arrependimento da vida dela, pois hoje o Leo é praticamente obcecado por eles, já tem estantes com capacidade para 250 miniaturas e não pode ver uma loja de brinquedos que já entra pra procurar os modelos que ainda não tem, disputando-os a tapa com crianças de 5 a 10 anos… Como se os carrinhos não bastassem, o Leo também tem coleção de caixas de fósforo com logo de restaurantes, bolachas, daquelas que se coloca em baixo das tulipas de chopp, rolhas de vinho, entre outras bugigangas.
O irmão dele, João Gustavo, ou Gu, como o chamamos, tem uma bela coleção de chaveiros. Eles ficam pendurados na parede do seu antigo quarto, no apartamento de seus pais, em São Paulo. Além dos chaveiros, ele também coleciona miniaturas automotivas, mas na escala 1:18, bem maiores que os hotwheels de seu irmão mais velho.
O Armani, amigo do Leo, coleciona camisas de times de futebol. Deve ter mais de cem camisas em seu armário, que nunca foram usadas.
Alguns dias atrás me mandaram umas fotos da casa de um rapaz, no interior de SP que tem coleção de um veículo específico: O GOL GTI. Ele tem um modelo de cada GTI fabricado, entre 1989 e 1993, em cada cor disponível. Devem ser mais de 10 carros, todos praticamente iguais, com exceção da cor.
Acredito eu até, que algumas pessoas têm prazer em colecionar desafetos. A pessoa sente prazer em arrumar confusão em todos os lugares em que passa, sempre arranjando novos inimigos por onde vai.
Portanto, o colecionismo, meus caros amigos, é uma atividade salutar e recomendada, e pode ser praticada por pessoas de qualquer idade, não sendo uma mera atividade recreativa infantil ou um passatempo para a terceira idade.
O colecionismo é uma importante forma de estudar e pesquisar, pois os objetos colecionados retratam um período da história de uma civilização, com suas particularidades e características, neles estando retratados seus aspectos culturais. Pode-se contar a história de uma nação, por exemplo, por suas moedas ou pelos seus selos postais.
O planejamento de uma coleção, implica em raciocinar, criar, imaginar, pesquisar, estudar e observar regras, além de interagir com terceiros. Este conjunto de tarefas configura um trabalho natural de observação, análise e síntese, desenvolve aptidões e aumenta a capacidade de aquisição de novos conhecimentos.
O desenvolvimento de uma coleção, tornando-a cada vez mais completa, induz sempre à uma necessidade de um melhor trabalho, de mais pesquisa, e por isso mesmo motiva cada vez mais o colecionador, pois desenvolve a metodologia, o senso de observação, a atenção e até a paciência, qualidades tão necessárias para estudar qualquer assunto. A pesquisa, tão importante e hoje praticamente abandonado pelos educadores, é um elemento obrigatório para qualquer forma de coleção. Desperta o instinto de curiosidade, fundamental para o prosseguimento de qualquer estudo. Paralelamente, a limpeza, o rigor, a correção, elementos básicos da coleção, são elementos que servem a qualquer um, não só durante a vida escolar, mas mesmo profissionalmente, por toda a vida.
O colecionador propriamente dito não objetiva o lucro. Seu investimento se baseia na aquisição de conhecimento. Todo colecionador acaba se tornando um especialista em sua área. Se ocorrer um lucro financeiro, este surgirá de maneira espontânea, pois todo acúmulo de valores traz, afinal de contas, uma riqueza.
Duas coleções, uma simples e modesta, e outra, premiada e de alto valor financeiro, possuem uma característica em comum: o seu aspecto cultural. Isso, mais do que um aspecto em comum, é uma qualidade, que une e nivela os colecionadores. Ambas tem o mesmo valor para seu proprietário, o mesmo objetivo, a mesma importância.
O retorno será sempre gratificante, com a descoberta de novos horizontes culturais, com o intercâmbio com os demais praticantes da mesma modalidade ou mesmo como uma simples higiene mental. O fascínio da pesquisa, da descoberta, é algo inerente ao ser humano e o colecionismo é um dos campos que proporciona as melhores oportunidades neste sentido. Os grandes acervos, em todo o mundo, sejam particulares, sejam de museus, arquivos, etc., iniciaram-se, em sua maioria, por pequenas coleções particulares.
Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!
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