Uma reflexão ao texto de Eliane Brum …………………………………………………………………………

Caros leitores, vocês que me acompanham há algum tempo, sabem que gosto e costumo escrever minha coluna no silêncio da madrugada, na companhia das poucas luzes que deixo acesas na minha sala que iluminam os quadros da amiga e artista plástica Sônia Menna Barreto, da luminária em minha mesa, do abajur ao lado do meu sofá e da luminosidade vinda dos meus monitores e da sensação de paz que são transmitidas pelo sono das minhas cachorras Lucky e Jade.

No entanto, atipicamente, despertei muito cedo e no banheiro, junto com o gosto da pasta de dente, com o cheiro do creme de barbear, com o barulho do chuveiro, o cheiro do shampoo e do sabonete, estava lá com meus pensamentos e reflexões matinais, com um olhar especial para minha vida. Uma certa tentativa de tentar procurar e entrar em acordo com algumas questões com você mesmo, sabe? Tem gente que canta no chuveiro. Conheço gente que até aproveita o tempo que toma banho para falar ao celular. Eu geralmente falo comigo mesmo ou simplesmente estou sempre pensando em alguma coisa. É algo incontrolável. Acredito que nunca havia revelado para vocês que o banheiro é local muito especial para mim, principalmente nas manhãs. Tomando banho que muitas vezes tive as minhas maiores ideias e sacadas empresariais. Contudo, como hoje de tarde tenho encontro marcado com meu amigo e exímio psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Leandro Savoy Duarte, estava refletindo sobre algumas questões para o nosso agradabilíssimo bate-papo semanal.

E, como nada nessa vida é coincidência, seguindo meu ritual matinal, após ligar meus computadores, passar o olho em meus e-mails, nas minhas redes sociais, tomar minhas vitaminas, meu protetor gástrico, minhas água com gás e meu café nespresso, gosto sempre de ler ou reler alguns bons textos na Internet de escritores dos quais sigo e sou fã. Até então, não tinha pretensão alguma de escrever logo cedo meu texto para o Jornal, mas, ao entrar na página da jornalista, escritora e documentarista Eliane Brum da Revista Época e ao reler o seu artigo cujo título é “Quando a máscara vira rosto – Todo mundo inventa seus personagens, mas alguns acreditam demais no próprio e se estrepam”, não resisti em alterar minha programação e agenda da manhã para escrever e propor uma reflexão em paralelo ao texto dessa talentosíssima escritora que ouso humildemente mencionar em minha coluna. Lembram-se que comentei de minhas reflexões no chuveiro? Pois é. Eliane Brum com maestria já havia escrito a respeito.

Eliane Brum dispensa maiores apresentações, mas para quem ainda não a conhece, Eliane Brum é jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de um romance – Uma duas (LeYa) – e de três livros de reportagem: Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo). E codiretora de dois documentários: Uma História Severina e Gretchen Filme Estrada.

Enfim, feitas as devidas apresentações, recordam-se que em crônicas anteriores mencionei o fato de que estou engajado em um novo projeto em parceria com o amigo em grande Diretor de TV Eduardo Ameruso para o lançamento do meu programa de TV na Internet que se chamará “Cá Entre Nós”? Onde será um programa literalmente de diversidades onde eu falo o que eu quero do jeito que eu quero com a minha cara onde estaria despido de qualquer máscara? Que esse programa para mim seria uma forma de Libertação das inúmeras máscaras que sou obrigado a usar todos os dias e que estavam me matando aos poucos? O Cá Entre Nós em outras palavras nasceu como um projeto ideológico de resgate de valores, propagação e perpetuação de cultura e informação.

Peço licença se farei muitas citações de trechos do texto de Eliane Brum, mas durante a leitura, perceberão que é inevitável pela riqueza e forma como trata do tema: “Ter um ou mais personagens para encarar a pedreira do mundo é não só necessário, como uma questão de sobrevivência. Especialmente se você tiver uma sensibilidade extremada. Nascemos com uma pelezinha de bebê também na alma (e aqui não me refiro ao sentido religioso do termo) e precisamos protegê-la. Se há algo que os outros pressentem é o tamanho da nossa fragilidade. Por isso um chefe abusivo sempre sabe com quem pode gritar – e com quem é melhor não. Muita gente é como aqueles cães de caça farejando o flanco mais indefeso para atacar sua presa. Triste, triste. Mas mais triste é quando, em nome da necessidade de sobreviver, criamos um personagem que se mostra tão útil que acaba se confundindo com nossa derme mais profunda. Se criar personagens é preciso, despir-se deles constantemente é vital.”

“Enfim, são muitas as fantasias que vestimos para não sermos engolidos pelo mundo. Em geral não somos nem mesmo uma máscara definida, como as que acabei de expor apenas como recurso didático. Não somos Batman, Coringa, Gilda, Bambi ou Madre Tereza de Calcutá. Somos uma mistura de vários estereótipos. E, se é verdade que vestimos máscaras, também é verdade que não há um “eu” essencial – mas sim um “eu” fluido e incapturável, em constante movimento de mutação. E é nesta fluidez do eu, que não pode ser confundida com ausência de rosto, que residem nossas verdades mais profundas.”

“Acho que nossas máscaras começam a colar no nosso rosto ainda na infância. Uma mistura entre a necessidade de rotular que os pais em geral têm e o nosso desejo de satisfazê-los – ou de escapar da prisão que intuímos. Numa família com mais de um filho é mais fácil perceber. Um é o extrovertido, o outro é o tímido, outro ainda é o rebelde. Ou um é o estudioso que “não dá trabalho nenhum”, o outro é o vagabundo que ninguém sabe “por quem puxou”. E há o outro que tem – socorro! – “transtorno do déficit de atenção e hiperatividade”.

“De fato, ninguém é – todos nós nos tornamos. E este “tornar-se” não é um caminho linear rumo a um rosto definitivo, que daria conta de nossa essência. Não há essência, o que existe é construção a partir de um conjunto de genes, de influências ambientais e experiências as mais variadas, de inscrição no momento histórico e de livre arbítrio – ainda que o livre arbítrio nunca seja tão livre assim. Embora possa ser assustador pensar que não há um “eu” essencial a ser alcançado, de fato é bastante libertador.”

“Somos uma constante invenção e reinvenção. E, tão importante quanto, desinvenção. Vale a pena não esquecer que sempre podemos nos desinventar. Ainda que carreguemos conosco tudo aquilo que vivemos, a mágica está em dar novos significados a antigas experiências e ter a sabedoria de nos livrarmos do que não é nosso, apenas foi impingido a nós como uma roupa de gosto duvidoso. Por isso, é bom tomarmos muito cuidado para não rotular os outros, como se nossas sentenças fossem imunes de preconceitos. E mais cuidado ainda se estes outros forem os nossos filhos, para que nossos rótulos não virem destino.”

“Acho que a melhor forma de não impingir máscaras aos outros é não impingi-las a nós mesmos. É bem fácil cair na tentação de transformar uma de nossas máscaras, aquela que nos parece mais eficaz no embate cotidiano, em nosso rosto definitivo. A máscara se torna tão usada que vai se fundindo primeiro à nossa pele, depois aos nossos ossos. Não é que vire ferro, como no clássico de Alexandre Dumas. O problema é que vira carne humana, mesmo. E aí, meu amigo, fica bem difícil de arrancá-la, porque passamos a acreditar que morreremos no processo. Ou que, por trás dela, não há um ou muitos rostos, mas um vazio infinito. Muita gente se agarra a seu personagem com medo de que, se a máscara for arrancada, descubram que não há nada lá. A máscara serviria, neste caso, para esconder a ausência de face.”

Cara, Eliane Brum, que texto lindo. Quem sabe um dia eu consiga me expressar fazendo o uso das palavras assim como você. Esse é um dos inúmeros desafios que lancei à minha vida para não me tornar uma máscara só. Ou pior do que isso. Uma máscara monocromática. Agora, a proposta reflexiva que deixo essa semana aos leitores que me seguem e pretensiosamente a escritora Eliane Brum, caso um dia navegando pelo Google descubra e venha a ler esse texto de mais um de seus inúmeros fãs espalhados pelo mundo, é a seguinte indagação: Eliane Brum, no decorrer da leitura de seu texto, você diz que tenta se livrar da tentação de virar um personagem de uma máscara só pela própria escrita, procurando inventar novas vozes narrativas, tentando quebrar o tempo se jogando em novos desafios sem pensar muito nos riscos para se desgarrar da tentação das certezas sobre você mesma e que isso até agora tem funcionado.

Mas, Eliane, eu também tenho me esforçado nesse sentido, olhe só: há 3 meses de completar 30 anos sou advogado, especializado em direito tributário, atuei profundamente na área e ainda continuo com a advocacia, depois de um tempo resolvi me despir da fantasia de advogado e trabalhar com a criatividade e tecnologia e hoje tenho uma renomada agência de web design, publicidade, propaganda e produtora especializada em marketing digital, se isso não bastasse aproveitei meus anos de conhecimento em legislação aduaneira e tenho uma empresa de importação e exportação, como sempre amei escrever, tenho essa coluna no Jornal O Rio Branco todos os domingos, jogo tênis, sou formado em piano clássico e depois de retiradas todas as máscaras, eu ainda não encontrei a face. Por onde é que a perdi depois de tentar me reinventar tantas vezes? Ou será que o problema não consiste no fato de perder ou achar a fece e sim de tê-la construído ou não? Serei eu mais uma vítima de outro de seus textos cujo título é “Meu filho, você não merece nada”? Sempre me pergunto se não serão mais felizes os ignorantes que acreditam serem suas faces o reflexo das máscaras que moldam por toda uma vida no decorrer de suas “ordinary lifes”.? Ou seria essa uma visão muito simplista e cômoda de minha parte?

Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!

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