Segundo semestre do ano de 2008. Iniciava-se um novo ciclo em minha vida. 2008 foi um ano de superação pessoal. Ultrapassei barreiras que jamais pensei fosse capaz de transpor. Saí fragilizado de uma decisão tomada que fora muito difícil para mim. Tomar decisões não é algo brando para ninguém, ainda mais quando se trata de algo teoricamente inexorável. Passei por uma fase difícil da vida, e, apesar de abalado, me sentia aliviado, livre e liberto. Uma força-motriz de Liberdade e Vontade lacerava meu peito numa dimensão fenomênica segundo a condição ontológica própria de todo ser humano que tão bem foi descrita pelos filósofos Sartre e Schopenhauer.
Me libertei a exemplo da teoria desses dois filósofos, ou seja, pela angústia e tensão que não mais era capaz de conviver. O ser humano se angustia diante de sua condenação à liberdade. O homem só não é livre para não ser livre, estamos condenados a fazer escolhas, e, a responsabilidade de nossas escolhas é tão opressiva que somos tomados pela equação Liberdade e Vontade que constitui no comportamento humano voluntário, na autonomia e espontaneidade do sujeito racional. Nascia em mim, naquele instante, a clareza, o conhecimento e a consciência de uma liberdade não desfrutada outrora.
Enfim, cerrando esse meu parênteses filosófico introdutório reflexivo onde descrevo concreta e abstratamente de maneira antonímia aquele período de minha vida que representou um verdadeiro rito de passagem, principiava-se vagarosamente a edificação de um novo estado espiritual.
E, foi nessa nova fase de adaptação que a figura de meu pai se fez primordial para uma solidificação firme e segura do meu estado psicológico. Ele me proporcionou a garantia que necessitava para formação de minha convicção na medida exata. Ele nunca precisou pronunciar uma palavra sequer. A sua presença, seu olhar amigo e o amor que me transmitia pelo calor de seus braços através de seus abraços de boa noite e de bom dia, me foram suficientes.
Desde pequeno, assim como toda criança, sempre quis ter um cachorro. Entretanto, por condições adversas e avessas às vontades minha e de meu pai e que irrelevantes são no presente, ele nunca teve a oportunidade de me dar um cachorro. Claro que acabei tendo peixinhos e passarinhos. Mas quem tem um cachorro ou um gato sabe que não é a mesma coisa. O peixe fica dentro do aquário. O passarinho dentro da gaiola. Qual é o máximo de interação que se pode ter com esses bichinhos? Nenhuma. Apenas parar em frente ao aquário, admirar os peixinhos e escutar o passarinho cantar.
No entanto, como já disse anteriormente, no segundo semestre de 2008 iniciava-se uma nova fase emocional e espiritual para mim e por efeito direto para o meu pai também. Assim, aconteceu, que durante o final do inverno daquele ano, nessa mesma época do aniversário do meu pai (dia 03 de setembro) que ele me propôs que tivéssemos um animal de estimação. Nem me recordava desse assunto mais. Contudo, ele não havia esquecido e parecia que o momento havia chegado.
Rapidamente me animei com a idéia e inicialmente pensamos em um gato, em razão dos felinos serem mais independentes e não dependerem tanto de nós. Meu pai, muito embora no decorrer de toda sua infância e juventude tenha tido a companhia de cachorros e gatos na fazenda de meu avô, ficou relativamente preocupado em termos um cachorro dentro do apartamento levando-se em consideração o fato de que passávamos a maior parte do dia fora de casa. Todavia a idéia do gato foi descartada. Descobri por acaso que sofro de uma alergia crônica aos felinos. Cheguei a fazer até exames que comprovaram meu grau elevado de rejeição a felinos. Fiz um tratamento com vacinas para amenizar essa alergia. Toda vez que acariciava um gato meus olhos ficavam imediatamente muito vermelhos, coçando desesperadoramente, super inchados, pegando fogo e eu era obrigado a praticamente tomar um banho, pingar colírios e colocar um saco de gelo sob os olhos. Sendo assim, mesmo tomando vacina, não iríamos correr esse risco.
Já que gato não seria possível decidimos pela idéia inicial de minha infância mesmo. Um cachorro. Meu pai que gosta de todos os animais possíveis e inimagináveis, sem discriminação ou preconceitos de raça, tipo, cor, tamanho (se deixasse acho que ele teria até um macaco), queria adotar um vira-lata. Inicialmente não gostei nem um pouco da idéia, pois pensei: Meu primeiro cachorro vai ser um vira-lata? Sonhei tanto com esse momento e não vou ter a oportunidade de escolher a raça, vou ter um cachorro sem pedigree? Quando me perguntarem na rua qual a raça do meu cachorro vou dizer que ele é filho de pai metade pastor alemão, metade labrador, e filho de mãe metade poodle e metade shih tsu? Ou seja, um clássico S.R.D (sem raça definida)?
Na época meu pai não era nem um pouco a favor de gastar fortunas com cachorros de canis. Dizia que era um desperdício de dinheiro sendo que existem tantos cachorros disponíveis para serem adotados. Me disse que faríamos uma boa ação em cuidar e dar carinho a um cachorro sem teto. Ele me chamou para irmos em vários lugares em São Paulo para procurarmos por filhotes. Momentaneamente concordei. Até porque ele estava certo, quem gosta de bicho, gosta de qualquer um, com pedigree, sem pedigree, todos acabam nos encantando. E de fato vimos muitos filhotinhos bonitinhos e interessantes. Nessa altura das andanças a procura do nosso cachorro, eu já tinha até os nomes para eles: seriam Johnnie ou Jack (em homenagem aos whiskys Johnnie Walker e Jack Daniels). Já estávamos quase levando um machinho para casa quando meu pai reparou nas patinhas dele. Proporcionalmente ao corpo do filhote as patas eram grandes. Logo meu pai disse: “Esse cara vai ficar grande”. Desistimos. Depois meu pai se lembrou que os machos gostam de demarcar território. Nos explicaram que se castrássemos ainda filhote correríamos menos riscos dele ficar fazendo xixi pelo apartamento todo. Passadas umas 3 semanas procurando o filhote ideal é que meu pai notou alguns pequenos detalhes logísticos. Quando em sua adolescência ele tinha inúmeros bichos, ele os tinha na fazenda do meu avô, em um lugar enorme, cheio de terra e mato. Na granja do Sr. Minoru Naganuma (meu avô) ele não tinha problema com o tamanho do cachorro, onde ele iria fazer suas necessidades, se ele demarcava território, se o cachorro latia demais, se o bicho precisava de pouco ou muito espaço para gastar suas energias, afinal de contas, ele morava numa fazenda.
Pois é. Foi pensando nesses inúmeros fatores que meu pai reavaliou minha idéia de pegar um cachorro de raça. Argumentei com ele que se tivesse pedigree e viesse de um canil sério, teríamos como prever pelo menos o tamanho final do cachorro. Ufa!!! Depois de quase 1 mês ele concordou que pesquisássemos raças de cachorros pequenos que coubessem em um apartamento e me disse para procurar por fêmeas.
Antes de começar minha pesquisa enlouquecedora por tipos de cachorros, acredito que conhecia apenas umas 4 ou 5 raças. Contudo, após uns 2 dias pesquisando na internet, comprando revistas, livros de cachorros, e umas madrugadas a dentro vendo o dia amanhecer, virei especialista em raças de cachorros. Me tornei um expert. Aprendi que as raças dos cachorros eram divididas por grupos, que havia concurso de cachorros e que os vencedores ganhavam umas letrinhas e uns números na frente do nome no pedigree e por conseqüência os filhotes desses campeões eram mais caros. Fiquei sabendo das máfias dos canis. Enfim, naquela época acredito que nem dono de pet shop e veterinário conhecia mais sobre cachorros do que eu.
Após toda essa pesquisa, fiz uma triagem e mostrei a lista para o meu pai com o objetivo de decidirmos juntos com qual raça ficaríamos, para, então, pegar o telefone e ligar para os canis. Primeiramente tínhamos escolhido uma raça do grupo dos Terriers, mas após a visita a alguns canis mudamos de idéia e definimos que teríamos um West Highland White Terrier, bonito o nome né? Mas ele é popularmente conhecido como Westie ou o cachorro da propaganda do Ig. É um cachorro todo branquinho, pequeno e com as orelhas em pé.
Foi assim que no dia 03 de outubro de 2008 de uma ninhada de um macho e duas fêmeas nasceu a Lucky Naganuma BR Granville (é isso mesmo, ela tem o nosso sobrenome até no pedigree). A carinhosamente chamada de “Luckynha” nossa cachorrinha que tanta alegria nos trouxe e tanto carinho e amor nos dá todos os dias.
Em uma próxima oportunidade contarei à vocês leitores um pouco do nosso dia a dia com a Lucky.
Pai, obrigado pela Lucky, parabéns pelo seu aniversário dia 03 de setembro e obrigado principalmente pelo seu amor, conselhos, amizade e a sua vida de dedicação a mim.
Existem 3 coisas que você nunca perderá na vida: Meu amor, minha admiração e meu orgulho por você!!!
Um beijo,
Seu Filho.
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