Outro dia ao final de uma tarde chuvosa em São Paulo após dias e semanas incessantes de muito stress e difíceis decisões profissionais fui a um Happy Hour com amigos para tentar relaxar. Foi nesse momento que não pude deixar de observar as diferentes reações, transformações e revelações de sentimentos de cada um a cada minuto que o grau alcoólico das pessoas aumentava.
Engraçado como alguns que são tão felizes no dia a dia a cada gole vão ficando deprimidos, melancólicos e outros que aparentam ser mais sérios, apreensivos se tornam tão felizes e relaxados. Outros apenas sentem sono e ficam mudos, outros são inconvenientes e repetem a mesma história a mesma piada 100 vezes na noite. Alguns choram, outros riem descontroladamente. Algumas verdades escapam, algumas revoltas aparecem, alguns questionamentos sobre a vida brotam e assim entre um gole e outro o singelo happy hour acaba unindo de alguma maneira as pessoas que ali estão pelo fato de saírem daquele casulo que nos envolve da realidade vivida e automaticamente o personagem que representamos perante essa sociedade “maravilhosa” e hipócrita, “linda” e falsa, cheias de verdades e mentiras ficam de lado e a sinceridade e o verdadeiro sentimento de cada um fica exposto.
Alguns outros, assim como eu, quando bebo se voltam para si. Como em uma viagem nostálgica, mágica, com recordações de passagens de vida alegres e tristes, no meu caso em particular, prefiro me lembrar e me apoiar nesses bons momentos vividos que não voltam mais, nas lembranças que passam pela minha cabeça como em um filme onde a tela do cinema é o céu, os efeitos especiais as estrelas e a luz que ilumina o meu filme a lua. Depois do happy hour com meus amigos retornei para o meu apartamento, deitei em minha cama, apaguei as luzes, olhei para o teto e como se meu corpo saísse de mim num flutuar, atravessei a laje do prédio e comecei a ver flashes desse filme de minha vida. Reflexões, recheadas de sorrisos de uma piada vivenciada, lágrimas de saudades de alguém que está longe, um certo saudosismo de querer voltar no tempo, para viver toda aquela parte tão feliz de novo. Seria isso uma fuga que estaria buscando para tentar amenizar os muitos problemas e conflitos que inevitavelmente preciso enfrentar? Talvez sim. Mas acredito que não. Tenho certeza que essa viagem me fortaleceu, embarquei nessa viagem porque precisava me energizar com todas as coisas e pessoas importantes que estiveram e estão na minha vida. Naquela madrugada, ligaria para todos que pudesse simplesmente para dizer: Olá, liguei para dizer que pensei em você, que queria saber apenas como você estava, para dizer que senti saudades de você e que sua amizade, seu carinho e seu amor são muito importantes em minha vida.
Existem amigos, familiares que são assim. Mesmo que passemos semanas, meses, anos sem nos falarmos sabemos que eles estarão lá. Que no momento que nos encontrarmos ou nos falarmos de novo, aquele mesmo sentimento permanece igual, porque são sentimentos verdadeiros, construídos, regados e arraigados que não são facilmente destruídos.
Foi assim, que deitado em minha cama, com meu coração apertado face a uma decisão tomada irreversível que pensei nas pessoas que amo. Senti saudades do meu pai que está aí em Rio Branco, com nossas cachorras Lucky e Jade e que mudaram suas vidas completamente apenas para me dar suporte, apoio e me acompanhar nesse início dos meus novos negócios no Acre. Olhei para o nosso apartamento em São Paulo vazio, e senti uma tristeza gostosa, vi meu pai sentado no sofá assistindo TV com a Lucky e Jade, lembrei delas correndo pelo apartamento brincando, dos momentos felizes que vivemos eu, meu pai e as cachorras nesse apartamento, olhei para cada objeto, móveis, quadros e etc. que foram postos em cada lugar com tanto carinho, senti a boa energia que pairava e me acompanhava por todos os corredores, quartos, salas, cozinha de nossa tão amada morada de São Paulo.
Pensei e reavaliei também alguns conceitos e valores de minha vida. Lembrei dos meus primos tão queridos e amados e que sempre se fizeram tão presentes em toda minha trajetória. Em especial pensei na minha prima que carinhosamente a chamamos de “Sá”, no câncer que ela luta todos os dias para vencer e que em decorrência dos meus negócios frenéticos ainda não tive tempo de visitá-la. Nem sequer uma ligação fiz para ela desde que a doença foi diagnosticada. Trabalho frenético? Isso não é desculpa para não fazer sequer uma ligação, fazer uma visita. Me senti mal. É algo que me incomoda todos os dias há meses, e que por essa desculpa esfarrapada de excesso de trabalho não fui visitá-la para abraçá-la e dizer. Sá, vim até aqui para ver como você está. Vim para pegar na sua mão, te dar um abraço e um beijo e ficar, mesmo que por poucas horas ao seu lado e dizer o quanto você está presente em minhas orações e o quanto você é importante em minha vida. Você se lembra daquele carnaval que passamos juntos em minha casa de praia? Como nos divertimos… nas bebedeiras, nos churrascos e baladas que fizemos juntos? Você se lembra quando eu era pequeno e estava de férias aí na sua cidade São José do Rio Preto (interior de São Paulo) e fomos assistir um filme juntos e depois você me levou para comer um lanche no trailer de um tiozinho que ficava bem na saída do cinema? Sá, desejo muita saúde a você.
Como em uma avalanche, inúmeras pessoas passaram pela minha cabeça. Lembrei dos almoços agradabilíssimos aos domingos na casa de minha tia Masuco que já são praticamente um ritual. Da feijoada de todos os sábados com meus amigos de infância Zé e Gu, das muitas gargalhadas na fazenda em Naviraí (Mato Grosso do Sul) com meus primos Karen e Alessandro. Me lembrei das risadas e fofocas que confidenciamos eu e minha prima Karina que todas as vezes que preciso com todo carinho e atenção me escuta e me incentiva. Das piadinhas intermináveis do meu primo Francis comigo. Das tantas que aprontamos juntos em nossa adolescência eu e meu outro grande amigo de infância Leo. E assim viajando, no meu cinema imaginário, acabei pegando no sono.
Pois é caros leitores, às vezes me revolto em pensar nisso. Nessa escolha que fiz para minha vida e no preço alto que tenho que pagar para atingir alguns sonhos e metas traçadas. Eu sei que a vida é feita de escolhas e cada um escolhe o caminho que quer seguir e paga um preço por isso. Não escrevo porque estou arrependido pela escolha que fiz. Apenas desabafo aqui nessas linhas uma indignação que às vezes me toma por muitas vezes fazer tanto e no final descobrir que esse tanto talvez não seja nada. De depositar e apostar toda uma energia em algo que no final do caminho descubro que foi em vão.
Mas a vida é assim, caros leitores, repleta de altos e baixos, de conquistas e perdas, de surpresas e decepções e principalmente de muito aprendizado e amadurecimento.
Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!