PARA-RAIO …………………………………………………………………………

Sou um verdadeiro para-raio. Todos os insetos que vocês um dia possam ter imaginado já me picaram. Se estou em um grupo de 10 pessoas em um ambiente onde há um pernilongo voando, podem ter certeza de que ele vai me escolher, vai pousar sob meus braços, minhas pernas, pescoço ou qualquer lugar que esteja descoberto e vai me picar.

Eu sei, já me falaram aqui em Rio Branco que sangue novo é assim mesmo. Mas por toda minha vida sempre fui vítima desses insetos horrorosos que me fazem um estrago desproporcional ao seu pequeno tamanho.

Entretanto, quero lhes contar uns momentos que vivi aqui no Acre onde além de ser picado por novas espécies das quais nunca tinha visto ou tinha conhecimento, aprendi um pouco da cultura regional no que diz respeito às expressões e nomes que as pessoas dão a esses insetos.

Estava eu pela primeira vez em Cruzeiro do Sul representando minha agência NK7 na Expo Acre Juruá, quando recebi o convite de algumas pessoas para fazer um passeio tipo city tour pela cidade e arredores no dia seguinte da nossa chegada. Pois é. Eu como um bom paulistano acostumado com muito concreto, poluição e trânsito, imaginei que no dia seguinte estaria num ônibus com ar condicionado, um guia turístico com um microfone nas mãos e japonês que sou, estaria batendo milhares de fotos.

Bom, o passeio foi “quase” como eu imaginei, mas na verdade não era bem um city tour tradicional daqueles que fazemos por Nova York onde pegamos um ônibus, o guia turístico vai contando a história de cada monumento, museu, parque ou rua que visitamos. Desses que eles fazem parada de 5 minutos para fotos na Estátua da Liberdade ou no Central Park. Então, quando estava com o resto da turma esperando nosso meio de condução para o tal city tour, ao invés de um ônibus tradicional parou um jipe e uma caminhonete na frente do hotel (que mais parecia uma pousada). Até aí não me preocupei, afinal de contas estávamos em poucas pessoas e não seria necessário um ônibus. Na seqüência, subi no jipe e fomos embora. Aos poucos fui percebendo que a paisagem estava mudando, e não nos encontrávamos mais na cidade, era só estrada e mato. Foi nessa hora que tive a brilhante idéia de perguntar qual seria o roteiro do nosso passeio e me disseram que iríamos até um rio e faríamos um passeio de barco e depois teríamos o almoço.

Pensei: Nossa… que legal, um passeio de barco no rio no meio da Amazônia. Experiência única. E de fato foi uma experiência única, exclusiva, VIP. Chegamos ao Município de Mâncio Lima onde faríamos o passeio de barco pelo Rio Japiim. Olhei toda aquela natureza que nos rodeava e fiquei estonteado. Nunca tinha chegado tão perto assim de uma Floresta, de um Rio Amazônico e obviamente só se escutavam os clicks intermináveis da minha Nikon como um belo turista paulista e japonês que eu era. E como todo turista, é claro que fiz dezenas de perguntas pouco felizes que irei lhes contando ao longo de outras crônicas que escreverei relatando a experiência desse paulista no meio da floresta. Mas, voltando ao assunto, a primeira pergunta que fiz aos meus colegas de passeio foi: Onde está o barco? Meu colega acreano rapidamente estampou um sorrisinho no rosto e me respondeu: Paulista, olha os barquinhos ali. Você não estava esperando uma Chalana com rede e restaurante dentro, né? Olhei para ele com um sorrisinho amarelo e disse: É mesmo… não tinha visto que eram aqueles barquinhos que iriam nos levar. Imediatamente meu coração começou a palpitar. Fiquei imaginando 16 pessoas divididas naqueles barquinhos que na verdade de barcos não tinham nada. Eram verdadeiras canoas. Já imaginei aquelas canoas virando e a gente caindo no meio do rio repleto de cobras, jacarés, onças, piranhas, aranhas, macacos carnívoros e eu de tênis, meia, Iphone em uma das mãos, Nikon na outra, carteira, óculos de sol e etc.

O que estou fazendo aqui? Foi a pergunta que não parava de ecoar na minha cabeça. Fui ludibriado, pensei. Mas a história nem estava no começo. Olhei para um lado e vi o rio, para o outro a estrada que nos trouxera sem o jipe e as caminhonetes. Não havia o que fazer. Estava lá, entre a beira da estrada e o rio. Enchi o peito e falei comigo mesmo: Vamos lá, será uma experiência inesquecível, uma aventura e tanto para você contar para o pessoal lá do escritório em São Paulo. Afinal de contas, viajo tanto, conheço tantas pessoas e culturas diferentes e vou ficar com medo de conhecer a floresta do meu próprio país? Estou frente a frente com o chamado “pulmão do mundo” e vou perder essa oportunidade? Nunca. Sou um privilegiado. Azar do meu sócio Alex que não está aqui para vivenciar isso tudo. Avante!!!

Após ter me preparado psicologicamente e estar me sentido seguro e forte para o grande passeio da minha vida que na beira do rio, tentando me enfiar dentro daquele colete salva-vidas, comecei a sentir uma coceirinha na perna. Depois no joelho, Depois nas coxas, no tornozelo, na canela, nos braços, ante-braços, mãos, pescoço, quando reparei que haviam mais de 30 pontinhos pretos grudados em mim. Comecei a matá-los desesperadamente e no local em que eles me mordiam sangrava e coçava muito, formaram vergões vermelhos enormes da mais enlouquecedora coceira. Foi aí que uma amiga do passeio olhou e me disse: Você está sendo atacado por “piuns”. O que? Perguntei a ela? Pium, ela respondeu. Pium? O que é isso? Uma espécie de pulga? Porque para mim mais pareciam pulgas do que um inseto voador. Rapidamente uma outra colega que sabiamente havia levado um repelente, começou a jogar aquele spray em cima de mim. Me senti como se estivesse pegando fogo e alguém viesse com um extintor nas mãos espirrando aquele pó químico em mim.

Pois é, caros leitores, o passeio não havia nem começado, não tinha nem subido na canoa, e já havia sido derrotado pelos tal “piuns”. Não foi jacaré, canoa virada, onça pintada, piranha, nada disso que me atacou. Eu apenas consegui ver passarinhos, e borboletas voando e muita floresta, rio e ar puro. A energia que se recebe quando se está no meio da Floresta é algo inexplicável. Só quem foi para saber. É algo que precisa ser vivenciado, sentido e não contado por uma terceira pessoa. No meio da Floresta é que percebemos, lembramos e realçamos alguns valores da vida muito mais importantes do que o nosso trabalho, dinheiro, carros, shoppings centers. Afinal, do que serviria aquela dúzia de cartões de crédito que estavam na minha carteira, um aparelho de telefone com conexão 3G, wi-fi, se ali, bem ali na floresta do lado da Samaúma nada daquilo teria utilidade. Quando se entra na floresta percebemos como somos pequenos ao lado daquela natureza exuberante e poderosa.

Enfim, deixando um pouco a Floresta de lado, até porque em outra oportunidade escreverei mais detalhadamente sobre minhas experiências com ela, vamos voltar àquele microscópico ser que quase conseguiu me derrotar antes mesmo do começo. O Pium. Um inseto que não existe em São Paulo que mais parece com uma pulga de tão pequeno que é, e sua mordida coça umas 1000 vezes mais do que a de um pernilongo comum. Foi por causa da picada do pium que comecei a me interessar por esses insetos aqui da região amazônica que poderiam me picar. Queria conhecer todos ou ao menos alguns deles. Alguns dos nomes. E, foi assim, conversando com algumas pessoas nativas da região, inclusive minha secretária do lar, Dna. Jacinta, que me informei do nome de vários deles. Bom, além do Pium, descobri a existência do Meruim (digamos que é um pernilongo bem pequeno), o Borrachudo, que é comum também lá para o Sul e o propriamente dito Pernilongo que aqui no Acre as pessoas o chamam de Carapanã. Além deles, descobri também que existe a Gictaia (uma formiga pequena que coça muito e deixa a pele vermelha), o Tucandeiro (que é um tipo de formiga grande), a formiga Tachi (que dá na madeira e se você encostar nesse pedaço de madeira a formiga cai em você e te morde). Aprendi também que abelha aqui é chamada da Caba, que existem por exemplo a Caba Tatu (que é uma abelha que só fica no ninho, mas que também morde), a Caba Cega (que é uma abelha que solta muito veneno e deixa o esporão dentro de você) e a única abelha chamada de abelha aqui no Acre é a abelha italiana (que é a que dá mel).

Então, meus amigos, lembrei de relatar um pouco dessa minha experiência para vocês, porque todos os dias na varanda de minha casa em Rio Branco sou atacado por algum tipo de pernilongo, seja ele chamado de Pium, Meruim, Borrachudo ou Carapanã, todos eles parecem gostar de se esbaldar em minhas pernas e braços. Serei eu apenas um sangue novo? Ou sou realmente a vítima predileta desses insetos? Haja pomada Fenergan!!!

Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!

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