A resposta é simples: porque vivemos no Brasil. Na terra da burocracia, da tributação, das dificuldades, do jeitinho brasileiro, dos grandes monopólios das indústriasaudiovisuais, entenda-se por redes de TV. O Brasil do pensamento retrógrado de que cultura e arte são coisas de ricos e milionários ou dos pseudo-intelectuais. Que cultura e arte não trazem retorno financeiro. Que cultura e arte não vende e com essa máxima cada vez mais difundida as verdadeiras raízes que deveriam se tornar árvores centenárias com bons frutos a serem perpetuados, começaram a morrer, esquecidas, abandonadas e fadadas a podridão. Essas árvores que tanto teriam a nos oferecer com suas experiências de vida uma hora serão extintas e não teremos nada registrado para os que virão depois de nós. O verdadeiro sentimento de amor e dedicação pela cultura e arte de alguns antigos que entregaram suas vidas em prol da difusão e transmissão das emoções que um bom texto, uma boa música e um bom quadro podem proporcionar quando devidamente entendidos e assimilados por nossas almas, para o meu desespero, estão absurdamente caindo no esquecimento.
Reverenciando o nobre Senador carioca Artur da Távola, que infelizmente nos deixou em 2003, dizia ele que: “Música é vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão”. Sábias palavras…
Digo que são sábias palavras porque nos tempos atuais da depressão, do individualismo, egoísmo e na corrida desvairada da maioria da população desenganada e iludida pelo reflexo da miragem de felicidade advinda pelo dinheiro, acabam por fincar suas fundações e estruturá-las em cima de um banco de areia. Após um tempo começam as rachaduras, os trincos, os vazamentos e por fim desmoronam e acabam no chão. Culpa de quem? Dos nossos pais? Do nosso país? Dos nossos amigos? Dos grandes empresários? Das escolas? Do pobre? Do rico? Do capitalismo? Da globalização? Da internet? De nós mesmos? Afirmo ser culpa de tudo e de todos. A culpa é minha e a culpa é sua também. Na mesma medida a partir do momento em que nos omitimos a enxergar um pouco mais adiante.
Peço desculpas, caros leitores, pelo desabafo. Talvez todo esse começo devesse ser o fim. Mas não consegui. Meus sentimentos ultrapassam o meu poder de controle sob as teclas do computador. No entanto, para que vocês entendam o que pretendo transmitir a vocês essa semana, tudo está diretamente relacionado ao projeto que estou desenvolvendo com o parceiro de trabalho e amigo o Diretor Audiovisual Eduardo Ameruso que tem firmemente me suportado em todas as horas do dia com minhas divagações, inseguranças e incertezas. Mas, como tudo na vida, aos poucos estou encontrando um caminho.
Como venho mencionando há semanas, estamos trabalhando no projeto do meu canal de vídeos na Internet. Não imaginava que o início seria tão “difícil”. Refiro-me a difícil, porque acabei tornando-o difícil (mas não menos prazeroso). A vontade de falar, de transmitir idéias, informações e filosofias de vida são muito maiores do que se pode executar na prática e no tempo que eu gostaria. Todavia, envolto a inúmeros quadros traçados para o programa, fui surpreendentemente agraciado em um bate-papo informal com informações e dados de arquivo de uma pessoa que muita relevância tem em minha vida. Após essa breve reunião que estava prevista para durar meia hora e se estendeu para 3 horas, resolvemos eu e o Edu que o tema em questão valeria mais que um vídeo no meu Vlog. Pensamos e imediatamente decidimos por fazer um documentário em forma de curta-metragem.
Nesse momento comecei a reparar e me deparar com fatos que além de me deixarem perplexos, me revoltaram. Tudo bem que eu e o Edu temos o equipamento que nos permitem a execução de um curta. Contudo, nosso conceito inicial era demonstrar através do Vlog que é possível fazer vídeos com qualidade de TV na Internet com equipamentos de baixo custo e a técnica correta. Entretanto, o projeto do curta merece uma produção maior, com redundância de equipamentos, das melhores marcas de captação de imagem e áudio. Dos melhores profissionais tanto na pré como na pós-produção. De nada vale uma imagem em Full HD e a melhor definição de áudio, se não houver um bom roteiro e uma boa edição.
Em virtude disso e coincidentemente aconteciam na cidade de São Paulo duas feiras. Uma de fotografia e outra de broadcasting. Fomos às duas. Tanto para conferir as novidades em equipamentos como para comprá-los. Mas a decepção foi enorme. Primeiro porque essas feiras no Brasil são minúsculas, algumas delas nem vendem para consumidores finais, e para completar não vimos nada novo que já não tivéssemos conhecimento e equipamentos muito inferiores com os quais já trabalhamos com preços exorbitantes. Isso para não falar de alguns “inventores” que copiam porcamente acessórios de equipamentos americanos e os vendem pelo preço que se pratica nos Estados Unidos, por exemplo. Friso a palavra inventores, porque são realmente invenções, nem cópias quase perfeitas como as dos chineses eles conseguem fazer. Portanto, acabam vendendo uma invenção que dizem fazer o mesmo papel do produto estrangeiro com preço de mercadoria importada. Uma verdadeira cara de pau.
Esse foi apenas um exemplo. Mas as dificuldades e barreiras enfrentadas pelos pequenos e médios produtores no Brasil são inesgotáveis. Em se tratando de equipamentos, precisamos viver na clandestinidade. Para quem não sabe produção audiovisual custa caro. E os poucos representantes de algumas marcas além de cobrarem preços impraticáveis, não te dão opção, apenas um modelo de cada coisa e ainda por cima o mais simples de todos. Acaba valendo mais a pena pagar uma passagem para os EUA e comprar tudo lá. Isso sem levar em consideração como já dito anteriormente que são praticamente inexistentes representantes desse tipo de equipamento no Brasil. Portanto, o que temos que fazer? Ou viajamos para comprar e corremos o risco de sermos barrados na alfândega pagando impostos incompatíveis, ou compramos de contrabandistas que vivem da taxa que pagamos para viajarem por nós. Daí surge a pergunta: Por que nosso Congresso Nacional não cria uma lei de incentivo fiscal para importação desse tipo de equipamento para produtoras com fins culturais e artísticos?
A resposta deles é simples. Já existe uma Lei de Incentivo à Cultura, a Lei 8.313/91, mais conhecida como Lei Rouanet, que superficialmente explicando, permite às pessoas físicas e jurídicas o abatimento fiscal no Imposto de Renda daquilo que foi investido nos projetos culturais aprovados pela União. Parece fácil, não é mesmo? Pois fiquem sabendo que não é. Afinal, aqui é Brasil, aqui é a terra da burocracia. Apenas a título exemplificativo, além de preencher dezenas, centenas de formulários com infindáveis perguntas, muitas, sem sentido, que nos levam meses para cumprir todas as exigências, é necessário aguardar a aprovação do governo que significam mais outros tantos meses. Bom, até aí, se queremos o incentivo, precisamos cumprir as exigências. Mas, depois de aprovado o projeto é preciso procurar empresas interessadas. Isso igualmente parece fácil, afinal de contas o empresário em alguns casos abateria 100% do valor investido no projeto no IR e ainda teria a divulgação de sua marca. Pois é. Mas esquecemos que vivemos no Brasil. Essa semana conversando com uma amiga de longa data, dos meus tempos de Colégio Bandeirantes, ela me informou que a empresa de seu pai patrocinaria nosso projeto, mas ela quis ter certeza se não tinha Lei Rouanet envolvida. Eu prontamente disse que não. Que era um projeto pessoal financiado por nós mesmos. Mas indaguei-a do porque dessa restrição à Lei Rouanet. Ela simplesmente me respondeu: – Não sei te explicar o porquê, mas as empresas que patrocinam através dessa Lei acabam chamando muita atenção da Receita Federal e é fiscal na certa batendo na porta da empresa.
Essa é mais uma faceta triste de nosso país. Por tudo, apenas o que posso dizer é que não desistirei de executar nenhum projeto que considere verdadeiro no sentido de levar cultura, informação e sentimento para as pessoas. Opto por morrer na ilusão de que a cultura com conteúdo no sentido lato da palavra sempre será contemporânea e vencerá se perpetuando da maneira que couber no contexto da evolução da humanidade.
Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!
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