TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO …………………………………………………………………………

Não sou psicólogo e muito menos psiquiatra. Seja lá qual a melhor definição conceitual e acadêmica para tratar ou mesmo diferenciar pequenas manias, rituais, transtorno de ansiedade ou o famoso TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo, afirmo que de cada um deles, todos temos um pouco. Evidentemente que não estou falando daquelas pessoas que possuem tiques tão significativos a ponto de terem suas vidas cotidianas prejudicadas em decorrência de suas manias. No entanto, percebo que no meu caso é quase um caso clínico. Em algumas situações chego a pensar até que sou louco. Estava em uma reunião durante essa semana e conversando sobre a pauta de um programa que estamos idealizando, sugeri alguns pontos que são do meu interesse e me surpreendi com a resposta da artista que estava do outro lado. Entre vários tópicos discutidos, expressei minha vontade de mostrar ao público um pouco da intimidade dessa artista e principalmente passar para o telespectador não apenas uma cena fechada e travada, mas, todo o ambiente, a atmosfera que proporciona e permite que todo aquele talento se extravase. Desde o local de trabalho, como pequenos detalhes, posição de objetos, móveis e etc. Até porque, tomei como base o meu próprio ritual para um processo criativo produtivo.

Apenas a título de ilustração, sou uma pessoa que tem uma capacidade de concentração enorme. Sou capaz de ler um livro, estudar para um prova, em meio a um desfile de carnaval. Contudo, quando escrevo, desde o mais singelo texto, poema, frase, e a nossa própria crônica dominical, preciso seguir um ritual. Quando me refiro a um ritual, não quero dizer que para escrever essa crônica eu necessito seguir uma ordem cronológica obrigatória de procedimentos, mas como tudo que escrevo, o faço com muito amor e dedicação. Considero esse momento como algo muito pessoal, de meditação e reflexão. Preciso de uma certa atmosfera que me leve a inspiração, à busca de idéias, conceitos, pontos de vista, ou mesmo a melhor maneira de me expressar através das palavras. Sendo assim, por exemplo, sempre que possível, gosto de escrever no meu escritório de portas fechadas, de noite quando não há mais ninguém na agência, onde ao mesmo tempo em que escuto o silêncio e alimento minha alma dele, consigo escutar os pequenos ruídos da rua, os detalhes da música clássica que saem das caixas de som de minha sala, apago as luzes fluorescentes do teto e permaneço apenas com as iluminações indiretas alimentadas com lâmpadas quentes para transformar o móvel que até minutos atrás era simplesmente uma mesa de trabalho para um objeto aconchegante, com calor e vida. Um momento em que a conversa é com o meu íntimo, através de um olhar para o teto ao observar o efeito das luzes no ambiente, da luminária ligada em cima da minha mesa, do abajur ao lado da poltrona, dos focos de luzes produzidos pelas lâmpadas de dicróica que iluminam os belíssimos quadros que decoram a minha sala da maravilhosa pintora brasileira Sônia Menna Barreto que com sua técnica e dom ímpares, permitem que eu viaje através daqueles elementos surrealistas e meus pensamentos flutuem. Desde o cheiro do meu café nespresso, ou do buquê do vinho de minha adega, que exala daquela taça de cristal perfeitamente cristalina ou ainda no barulho do gelo no meu copo de whisky (dependendo da vontade do dia, é claro). Tudo isso e muito mais elementos como o cheiro e o conforto da minha poltrona de couro até o mais singelo objeto de decoração que compõem meu ambiente de trabalho se assim o continuasse descrevendo, provavelmente levaria essa imensa descrição ao infinito.

Enfim, caros leitores, ao lerem esse parágrafo anterior, com certeza caberiam várias interpretações. Talvez uns possam interpretar como sendo um ritual que criei e reservei para desenvolver algo que tanto gosto de fazer que é escrever, como ao mesmo tempo, podem estar achando que meu caso não é de transtorno obsessivo compulsivo, mas, de loucura e igualmente podem concluir por ser uma somatização de tudo isso com uma pitada bem caprichada de pura frescura. Pois é. No caso do meu ritual para escrever acredito caber essa interpretação. Todavia, esse é apenas um detalhe, um exemplo mais artístico e por conseqüência, mais leve e compreensivo do que os outros sintomas do real TOC que discorrerei a vocês.

Iniciei tratando o assunto com um exemplo que muito embora seja verdadeiro, possui um viés ornamentado com todo um cenário romântico. Afinal de contas, não quero e não pretendia chocá-los com minhas inúmeras e infindáveis manias e rituais “sem sentido” que fazem parte de minha vida, de meu cotidiano e que mesmo não me fazendo mal (porque me sinto bem ao fazê-las), acredito que se tornaram pequenas compulsões. Comecei a acreditar nessa teoria em virtude de amigos e parentes que me consideram “exagerado” em determinadas atitudes que para eles não são muito normais.

Pois bem. Acompanhem o meu raciocínio. Qual o mal que pode haver na vida de uma pessoa, no meu caso que vos dirijo a palavra, em gostar de ter todas as minhas camisas organizadas no armário por tons crescentes de cores; ter todos os cabides iguais e posicionados da mesma forma e com uma distância entre eles de 1 dedo; de todas as roupas, desde cuecas e meias devidamente alinhadas; de lavar minhas mãos várias vezes ao dia; de limpar a direção do meu carro se alguém anteriormente o guiou; de chegar todas as manhãs na sala da minha empresa e ter um borrifadorzinho com álcool 70% e higienizar minha mesa, meu aparelho de telefone, o teclado do meu computador, o mouse, os meus celulares; será realmente uma doença gostar de ter o aparelho de telefone do meu lado esquerdo ou direito; de gostar de tomar banho várias vezes ao dia; de ter as notas de dinheiro na ordem crescente na mesma posição, de cheirar e limpar a “boca”/”borda” do copo antes de usá-lo; de não gostar de ver marcas das digitais engorduradas das pessoas no monitor, na TV, em janelas; de evitar pisar nos rejuntes dos pisos; de prender a respiração dentro do elevador fechado quando alguém sem educação espirra; de evitar encostar em coisas onde muitas pessoas colocam as mãos como carrinhos de supermercado, barras de segurança em transportes públicos, aqueles monitores de caixa eletrônico de banco. Enfim, qual o problema de ser um homem prevenido e carregar um tubinho de álcool e outro com sabonete líquido quando na verdade se está preconizando a sua própria higiene, saúde e conseqüentemente as das demais pessoas? Afinal de contas, se é o meu guarda roupa, o meu carro, a minha sala, o meu computador, o meu telefone e etc., que são objetos que só dizem respeito a mim e não interferem direta nem indiretamente na vida de ninguém, porque não posso estabelecer os meus próprios procedimentos e regrinhas? Isso sem levarmos em consideração que geralmente as pessoas que tem manias e que possuem tiques exagerados não estão vinculadas ao exagero negativo, mas, ao positivo, pois sempre estão ligados à organização, limpeza e etc. Bom, sou da teoria de que é melhor errar para mais do que para menos.

De fato o que penso em relação às manias que todos temos independentemente do grau e intensidade da compulsão, é atentarmos ao fato de não permitimos que essas pequenas obsessões, ganhem proporções incontroláveis e prejudiciais para nossas vidas e para àquelas que conosco convivem.

Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!

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